Prece de mulher

"Em rosa minha oração, na areia
Descansa meu coração, clareia
Molha meus pés, guia meu olhar
Norteia lua
Me embala, me devolve meu mar
Canção de ninar
Essa minha dor leva
Amansa mareia
Me devolve canção
Embala meu olhar."

('Oração' - Chicas)

Não sou mulher de silêncios, apesar de depender intensamente deles.

É que vivo meio assim em desencontros com dependências. Aproximo-me com a mesma valentia que me afasto. Há coragem nos dois atos, mas nada de maestral. A coragem mais bela seria a de... Seria a que desconheço. Escreverei, talvez, quando souber.

Eu, o outro lado da moeda, não precisando de muito ao esconder as pequenas necessidades femininas do meu coração. Delicadamente forte. Fortemente estável. Instavelmente feliz.

Creio estar chegando a um lugar mais apresentável, mas a quem? Vejo a beleza ser desvelada com tão pouca sacralidade. Não me alcançam ao perderem de vista o sagrado habitado na minha fraqueza trincada nos limites.

Mas, sou uma mulher de conquistas. Meu troféu é de ouro, cravejado de solidões. Está nisso seu valor? No inatingível?

Resguardo-me no santuário criado no meu interior. Tão seguro. Tão meu. Tão necessitado de dar-se. Não quero morrer com minhas descobertas embaixo do travesseiro. Nasci para sonhos e realidades e não admito violação de nenhum deles. Quero a inteireza incongruente que, se é coesa é também paradoxal.

Talvez seja necessário degustar aos poucos, para que a crueza não me doa tanto e a doçura não passe do ponto. Hoje posso só olhar o que não existe e contemplar suas tantas existências dentro de mim.

Que eu não passe do ponto. Que eu não fique crua. Amém.

Rafaelle Melo.